A Ginástica Laboral é realmente eficaz dentro das empresas?

Nos dias atuais é primordial que o profissional justifique suas ações, embasados nas leis e de acordo com as atribuições profissionais adequadas. O objetivo sempre deve ser muito claro quanto às atividades desenvolvidas e possíveis resultados buscados.

O que acontece é que muitos profissionais quando chegam ao mercado de trabalho não se dão conta que empresas trabalham com números, e que para tal, exigem resultados mais convincentes do que simplesmente “melhorou bastante”.

A Ginástica Laboral, além de tantas outras controvérsias como por exemplo “quem pode atuar” (tema para um próximo artigo, rs) sempre vem sendo questionada quanto à sua efetividade dentro do contexto empresarial.

É fato que existe muito pouca pesquisa científica de qualidade sobre o tema. Mas também é fato que o número de empresas que investem nos programas de exercícios laborais é crescente. E convenhamos, nenhuma empresa investe dinheiro sem nenhum interesse em retorno, seja financeiro, social, de marketing ou de qualquer outro tipo.

Apresentaremos aqui, algumas informações de nossa prática com os exercícios desenvolvidos no ambiente de trabalho, através de artigos apresentados em eventos e de ferramentas que utilizamos na análise do programa.

O primeiro trabalho que iremos comentar foi publicado no Congresso Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP, 2007) e você pode baixar aqui.

Em síntese, o artigo trata não só de como se implementar um programa de gerenciamento em ergonomia dentro da empresa, mas traz também resultados práticos do mesmo.

O estudo foi desenvolvido no período de março de 2005 à março de 2006 e o programa de exercícios foi uma das ações realizadas no processo de gestão. Na verdade não foi só uma ação, mas uma das ações de maior importância no programa.

Os exercícios foram desenvolvidos sempre no mesmo horário (antes do início da jornada de trabalho) com duração de 15 minutos, três vezes por semana; conduzidos por um Fisioterapeuta em conjunto com um Educador Físico.

No levantamento de horas perdidas com absenteísmo (com faltas justificadas ou não) do período anterior ao estudo (março de 2004 a fevereiro de 2005) foi contabilizado uma perda de $65.430,00 dólares. Ao final do estudo, no ano seguinte esse valor foi reduzido a $36.600,00 dólares. Redução de quase 50%.

Em compensação, a quantidade de horas trabalhadas, mesmo com dois funcionários à menos que o ano anterior apontou um aumento de aproximadamente 10%.

Esses números são de extrema importância no contexto empresarial, pois deste modo o programa não é mais encarado como “marketing social” da empresa, e sim como análise de investimentos.

Claro que nem sempre conseguimos estes resultados com programas de ergonomia e qualidade de vida, mas outros resultados interessantes podem ser alcançados.

Vejamos o que podemos fazer em relação ao desenvolvimento e manutenção dos programas de exercícios laborais dentro das empresas e como este pode afetar a realidade do trabalho em outro artigo de nossa autoria, que foi publicado no Simpósio de Engenharia de Produção de 2007 (SIMPEP, 2007) e pode ser encontrado aqui.

Neste outro artigo é comentada a relação entre prevenção de LER/DORT com o desenvolvimento de exercícios laborais no ambiente de trabalho, abordando diversas pesquisas já realizadas e propondo um método de análise para estes programas.

Em resumo, neste artigo concluímos que não poderíamos afirmar a real efetividade da Ginástica Laboral na prevenção de LER/DORT mas computamos diversos ganhos secundários, como: melhora da auto-estima das pessoas, melhora da condição física, maior disposição, dentre outras. São ganhos subjetivos, mas que apontam melhorias.

Além disso, apresentamos o método de Análise de Exercícios Laborais (AEL) que quantifica os resultados que os funcionários atribuem à Ginástica Laboral, o nível de importância para cada atividade e além disso, as características do (s) profissional (is) que desenvolve (m) o programa.

Portanto, podemos aqui afirmar que a Ginástica Laboral, ou Cinesioterapia Laboral, ou Exercícios Laborais ou qualquer outra denominação que exista, reflete efeitos positivos no ambiente de trabalho.

Aqueles que já trabalham na área ou aqueles que pretendem iniciar neste trabalho devem sempre atentar-se para a importância de um trabalho bem projetado e bem gerenciado.

A principal diferença entre um bom programa de Ginástica Laboral e um programa fracassado é a qualidade de gestão das pessoas que o coordenam. Não devemos em hipótese alguma isolar o programa de exercícios da política administrativa da empresa. Pelo contrário, ela deve estar inserida no escopo de atuação da empresa, com apoio da alta direção.

Não existe um caminho certo ou um caminho errado. Existem escolhas. Já diz o bom e velho ditado: “Se conselho fosse bom ninguém dava, vendia…”; mas àqueles que se interessarem seguem algumas dicas (10) que podem ajudar na implementação e manutenção de um programa de exercícios dentro da empresa:

  1. Todo projeto que dura 10 anos começou algum dia; portanto não tenha pressa. Se existe um período em que tempo é extremamente necessário é na fase de projeto;
  2. Por falar em projeto, tenha um bem sólido. Saiba expor muito bem como as atividades serão desenvolvidas, quantas pessoas estarão envolvidas, horários de realização, formas de avaliação, dentre outros;
  3. Lembre-se que você irá trabalhar para empresas e como tal deverá apresentar resultados. Crie índices de controle, períodos para entrega de relatórios, critérios sólidos e o que mais for necessário para ganhar credibilidade;
  4. Não há outra maneira de conquistar seu espaço dentro da empresa sem apoio de quem está no comando. Conquiste a confiança da alta gerência e se possível traga-os para dentro do programa;
  5. Seu termômetro é seu público. Você aplica exercícios dirigidos ao grupo de funcionários da empresa, seja de uma fundição ou de alta tecnologia em medicamentos. Saiba ouvir as pessoas, adaptar seu trabalho segundo seu público alvo; cada programa é um programa e a metodologia que serve pra Empresa XIZ pode não servir pra Empresa ZE;
  6. Estude, pesquise, dedique-se. Por mais fácil que possa parecer realizar 10 ou 15 minutos por dia de exercícios, dedicação é necessária. Os funcionários tem que compreender que você faz parte da equipe, que trabalha junto com eles;
  7. Rotina é rotina. Assim como o grande provérbio do futebol que diz que “jogo é jogo, e vice-versa”, podemos dizer que rotina é rotina, e como tal deve ser tratada como assunto de segurança nacional. Um dos principais fatores que levam os programas ao fracasso é a criatividade (principalmente falta dela) dos comandantes. Se não forem acrescentados elementos como diálogos ergonômicos, mini-palestras, dinâmicas, dentre outros, arrume suas coisas e bye bye;
  8. Trabalho em equipe é melhor e ponto final. Brigas sobre quem pode ou não pode atuar, quem tem mais ou menos capacidade, só levam ao desgaste de todas as profissões. Cada profissional tem sua parcela de contribuição e quando somadas só engrandecem o trabalho;
  9. Comece de algum lugar. Dificilmente empresas implementam programas grandiosos de uma só vez. Em geral se tem primeiro um setor ou pequena unidade e depois a permissão de expansão dentro da empresa. Mais uma vez vale lembrar: seja paciente e trabalhe com cautela que o espaço chega;
  10. Todo começo é difícil, mas depois… continua difícil. Na verdade, a manutenção de um programa é muito mais difícil do que sua implementação. Novamente vale frizar: dedicação, conhecimento e até superação são necessários para seu sucesso e o sucesso da empresa.

Hoje ficamos por aqui. Espero que o artigo possa auxiliar alguns que andam “meio perdidos”, em busca de soluções para problemas do dia-a-dia e também para aqueles que estão em busca de um espaço dentro desta área de atuação.

Já que falamos tanto em aspectos motivacionais hoje, gostaria de finalizar com uma das tantas e famosas leis de Murphy:

“Nada é tão ruim que não possa ser piorado”.

Abraço à todos.

Neste curso gratuito eu vou te mostrar atingir a alta performance, faturando mais de 10 mil reais por mês como consultor em ergonomia.

ARTIGOS RELACIONADOS